A história dos residentes de Oleshky ocupada que se salvaram após o ataque terrorista à central hidroelétrica de Kakhovka

6 junho 2025

Esta é uma reportagem sobre duas pessoas que, na confusão da catástrofe causada pela explosão russa da central hidroelétrica de Kakhovka, aproveitaram uma oportunidade para sair da cidade ocupada de Oleshky. Podemos dizer que tiveram muita sorte, pois os residentes da margem esquerda inundada do rio Dnipró ficaram encurralados quando os ocupantes bloquearam a sua evacuação, dispararam contra os que queriam sair por conta própria e, claro, mentiram dizendo que “está tudo bem, não há motivo para pânico”.

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Os nomes dos entrevistados foram alterados por razões de segurança.

Encontrámos Andrii, de 56 anos, e Yuliia, de 53, em Kherson, um dia depois de terem chegado à zona controlada pela Ucrânia, vindos da zona ocupada de Oleshky. Trouxeram-lhes roupa limpa. De seguida, o casal planeava ir para a região ocidental da Ucrânia para visitar a filha e os netos. Andrii e Yuliia mostraram-me o vídeo do primeiro gelado comido em ano e meio, em Kherson, e depois recordaram os horrores que viveram e começaram a chorar.

Oleshky é uma cidade situada na margem esquerda do rio Dnipró, que tem estado sob ocupação desde o início da guerra em grande escala. Após a retirada das tropas russas de Kherson, em novembro de 2022, e a explosão da ponte Antonivskyi, a comunicação entre a cidade e a margem direita do rio Dnipró tornou-se impossível. Na sequência do ataque terrorista massivo, realizado pelos militares russos, em 6 de junho de 2023, que destruiu a barragem da central hidroelétrica de Kakhovka, dezenas de povoações a jusante ficaram inundadas ou completamente cobertas por água do rio.  3.103 casas estavam inundadas, tendo em cerca de 500 a água saído em 24 horas.

Primeiras notícias sob ocupação sobre o ataque terrorista à central hidroelétrica de Kakhovka

— A barragem explodiu — disse um amigo a Andrii ao telefone. Eram sete da manhã de terça-feira. A distância entre Oleshky e a central hidroelétrica de Kakhovka é de cerca de 50 quilómetros, pelo que o som da explosão não chegou até eles. Os habitantes souberam da inundação iminente através de amigos que telefonaram, da televisão ucraniana ou da Internet. A administração da ocupação não informou os habitantes locais sobre a inundação que se aproximava.

Sem incomodar Yuliia, Andrii saiu da cama e, pela primeira vez desde o início da ocupação, tirou três espingardas do seu esconderijo. A situação podia trazer de tudo. O homem sentia-se pesado a pensar no desastre que ele e a mulher iriam enfrentar em breve. Mas, ao mesmo tempo, surgiu dentro dele a esperança de que tudo isto, ou seja, a vida sob ocupação russa, chegasse finalmente ao fim. Não se tinham atrevido a evacuar da sua cidade natal antes, por causa da idade, diziam eles, por não quererem deixar a sua bela casa de dois andares com um jardim magnífico, e por acreditarem que os militares ucranianos

Andrii levou o seu barquinho para o quintal e baixou-o do atrelado, colocou dois remos e uma lona no interior, e amarrou uma extremidade da corda ao barco. Depois, através de uma janela aberta no segundo andar, atirou a corda para o seu quarto e atou a outra extremidade para evitar que o barco fosse arrastado pela água.

Atrelado
Reboque para transporte de automóveis ou equipamento especial.

Contou a Yuliia sobre a explosão da barragem. Em conjunto, começaram a retirar os alimentos enlatados, os legumes e a lenha da cave, pois havia uma lareira no segundo andar. Ficaram a saber mais notícias sobre a inundação através da televisão, já que, graças a uma antena parabólica, tinham acesso a canais ucranianos. Tentaram perceber se a sua casa iria ficar completamente inundada.

À tarde, Andrii pegou na sua bicicleta e foi fazer um reconhecimento. Era importante encontrar uma elevação para onde fugir. Ao passar por Oleshky, deparou-se com um casal de idosos no meio da rua. A mulher estava a chorar e o homem estava a acalmá-la. Andrii interveio.

— Ó filho, vamos ficar inundados! — gritava a mulher. Os filhos e os familiares deles estavam no estrangeiro. Não tinham para onde fugir.

— Se ouvirem água, venham ter comigo — disse Andrii, que deu a sua morada e se foi embora. Nunca mais os viu.

Mais tarde, Andrii e Yuliia voltaram a ver as notícias na televisão: “…a barragem e a sala de máquinas explodiram…”, “…o desastre ocorreu à noite, por volta das três horas…”, “…uma ameaça particular para a margem inferior esquerda…”.

As informações sobre o nível de inundação previsto variavam.

Por volta das seis da tarde, caiu a eletricidade em Oleshky. O casal ficou em casa durante o resto do dia.

Como a água chegou a Oleshky

À uma da manhã, Andrii ouviu o som da água. Abriu a janela. Cães ladravam e pessoas gritavam ao longe. Ele e a mulher saíram para a rua. A estrada estava inundada. Uma mulher com uma lanterna estava do outro lado da água e observava as ondas a inundar a rua. O casal decidiu regressar a casa enquanto ainda podia passar em terra firme. A água aproximava-se demasiado depressa.

Era quarta-feira de manhã. A água já estava a um metro de altura no quintal, mas a porta da casa estava bem fechada e a água mal se infiltrava. Andrii desceu à cave para salvar mais algumas latas de conservas e retirar a estação de bombagem. Mas, neste momento, o cano de esgoto que atravessava a sala rebentou e as fezes começaram a jorrar para a cave.

Ambos subiram para o segundo andar. Lá fora, o vento assobiava e havia um barulho vindo de baixo. A água e todo o conteúdo do sistema de esgotos levavam os móveis, o frigorífico e os eletrodomésticos caídos, no primeiro andar. Andrii usou uma faca para fazer marcas na parede da casa para registar o nível da inundação. Na primeira noite, a água subiu 5 centímetros de cinco em cinco minutos, mas de manhã o ritmo da inundação tinha abrandado.

A água começou a engolir a vedação. O barco amarrado à casa já estava à tona. Andrii desamarrou o barco e quis remar para salvar os seus vizinhos, mas não conseguiu sair do seu próprio quintal, pois o portão estava trancado com os dois trincos submersos na água, um em cima e outro em baixo. O homem regressou a casa, pegou numa enxada e, nadando até à saída, abriu o portão com a ponta da ferramenta.

Levou os seus vizinhos para casa. A água ainda não tinha chegado ao segundo andar. Depois foi numa missão de reconhecimento. A água continuava a subir e ele já podia ligar o motor, mas continuou a remar: os militares russos procuravam barcos a motor e confiscavam o motor ou a embarcação inteira. As embarcações sem motor não eram adequadas, porque em muitos locais já havia uma corrente rápida e os barcos insufláveis podiam ser facilmente perfurados.

Ao longo das ruas inundadas, havia confusão: as vacas mugiam, os cães e os gatos passavam a nado e a corrente levava colmeias, lenha e lixo. Ouviam-se gritos por todo o lado: “Socorro!”. Andrii transportava pessoas de casas mais pequenas para casas com dois ou mais andares. Estava um dia soalheiro e quente, que deixava muitas pessoas sentadas nos telhados sem qualquer sombra.

Os bombardeamentos continuavam: a artilharia russa disparava sobre Kherson a partir dos arredores de Oleshky. Os ucranianos respondiam.

Ao perder o rumo, Andrii bateu com a parte lateral do barco num tronco de alperceiro e um enxame de abelhas caiu sobre ele. Rapidamente agarrou na lona e cobriu-se com ela, sentindo que as abelhas a tentavam romper. Por fim, elas desistiram e Andrii continuou a navegar.

Havia mais abelhas a voar das colmeias inundadas. Também elas tinham perdido as suas casas.

Durante a manhã e a tarde, quase não havia barcos na água.

Enquanto navegava pela rua, Andrii ouviu um grito rouco. Começou a olhar em volta. A voz da mulher vinha de uma casa antiga, onde viu uma velhinha a espreitar pelo recorte triangular do sótão. Começou a chamá-la do barco e a mulher saltou pela porta do outro lado do sótão.

— Leva-me a Liuba — disse ela. Andrii começou a remar para a casa vizinha. Era sobre ela que Liuba, a amiga da velhota, estava sentada. Porém, como o telhado era demasiado alto, não a conseguia lá levar, pelo que lhe sugeriu que se sentasse no telhado doutro edifício alto, mais fácil de subir.

— Não! Se eu morrer, morro na minha própria casa — respondeu-lhe ela, que combinou com Liuba que um homem viria num barco para a tirar do sótão. Como tal, Andrii levou a velhota de volta, não tendo forças nem tempo para discutir.

Vídeo de Oleshky depois da inundação

Muitas pessoas pediam para ser transportadas, mas o homem recusava a maior parte delas. Socorria sobretudo mulheres com crianças ou idosos. Chegar até ao local, evitar os obstáculos, convencer a pessoa a embarcar, esperar que fizesse as malas, encontrar uma forma de a descer em segurança, tudo isto ocupava um tempo inestimável. Quanto a animais Infelizmente, não se pode falar, embora muitas pessoas pedissem para salvar cães e gatos.

Andrii passou por uma alta sebe de rosas que se tinha desenvolvido ao longo da estrada. Dois terços da roseira estavam inundados, as pétalas das rosas estavam cobertas de água e um cão castanho estava sentado, desamparado, numa jangada que tinha sido pregada à parede. O homem teve de passar sem atuar.

Foi então que Andrii viu dois barcos com soldados russos a navegar ao longo de Oleshky, passando pelas pessoas afogadas. Um deles aproximou-se dele.

— O seu motor está a funcionar? — perguntaram.

— Não. Podem ver que remo — respondeu Andrii. Os invasores foram-se embora.

Ao fim da tarde, aumentou o número de socorristas entre os habitantes locais, já que os militares russos não ajudavam as pessoas. Um homem fez uma jangada amarrando garrafas de plástico vazias a uma palete. Navegou e salvou animais, chegando mesmo a retirar um ouriço da água. Os habitantes da cidade telefonaram dos telhados aos seus familiares, amigos e conhecidos, implorando por ajuda.

Parou, ca**lho!

À noite, Andrii estava de volta a casa com Yuliia e os vizinhos, iluminando a parede da frente com uma lanterna. Estava a olhar para o último marco que tinha colocado há algumas horas. A água tinha-o coberto um pouco. Continuou a olhar para ele e, às duas e meia da manhã, gritou:

— Parou, ca**lho!

A água tinha parado mesmo e, de manhã, desceu 50 a 60 centímetros.

A ideia de que ainda poderia haver zonas secas em Oleshky nem sequer surgiu, pois parecia que a água tinha inundado toda a cidade. Mas, de manhã, Andrii navegou até ao ponto mais oposto ao Dnipró e descobriu que ainda havia terra seca perto do hospital. Começou a levar as pessoas para lá. Primeiro, transportou os vizinhos que estavam na sua casa, depois ajudou outras pessoas. No total, na quinta-feira, salvou cerca de 12 pessoas.

Nalguns locais, a água tinha quatro metros de profundidade, apenas as copas das árvores e os telhados das casas sobressaíam da água. Andrii navegava ao mesmo nível que o topo dos postes elétricos, enredando-se nos fios.

Vídeo de Oleshky depois da inundação.

Na quinta-feira, a rua tornou-se muito mais calma.

— Está alguém vivo? — gritava Andrii, enquanto remava pelos quarteirões. Só os cães respondiam. Ainda havia muitos deles, alguns a nadar, outros agarrados à terra ou a quaisquer objetos que se tivessem amontoado, formando pequenas ilhas de refúgio.

Vídeo de Oleshky depois da inundação.

Na quinta-feira, paletes, betoneiras, frigoríficos, terraços de madeira, etc., flutuavam corrente abaixo. A casa de um dos vizinhos foi arrancada e flutuou para o mar. A água estava agitada.

Ao fim da tarde, Andrii reparou que a corrente tinha feito um grande corredor até ao rio, com cerca de 50 metros de largura, abrindo caminho para Kherson. Mas era perigoso navegar até lá por causa da descida de um metro na água. No entanto, a esperança cresceu dentro dele. Regressou a casa.

Yuliia tinha medo de água e quase nunca tinha entrado num barco, mesmo antes da guerra, por isso não queria aceitar a ideia do marido de sair de Oleshky pelo caminho que tinha surgido. Mas Andrii insistiu, dizendo que só precisavam de atravessar o banco de areia e que depois os salvadores estariam à espera.

— É como se estivéssemos em Veneza!  — brincou. Depois de olhar para as fezes que flutuavam na água, misturadas com os brinquedos das crianças, e de seguida para o magnífico jardim inundado, que ela tinha cultivado com tanto esforço, Yuliia concordou.

Banco de areia
Uma secção pouco profunda do rio.

Navegar de Oleshky ocupada para a liberdade

A decisão final foi tomada na sexta-feira de manhã. Andrii lançou um barco insuflável de reserva e amarrou-o atrás do barco a motor com um cabo, fixando-o com um forte cabo de televisão. Nessa altura, dois vizinhos ainda estavam em casa. Andrii convidou-os a juntarem-se a eles, pois duas pessoas cabiam no barco insuflável. Recusaram categoricamente, dizendo que era demasiado perigoso. Pediram-lhe que os deixasse no hospital e Andrii concordou. Quando regressou, ele e Yuliia apressaram-se a arrumar no barco insuflável os fatos de casamento, os dois álbuns de fotografias preferidos, um tapete de acupunctura e um urso e um cão de peluche com que os netos costumavam brincar. O homem pegou na caixa oficial do seu telemóvel. Era difícil tomar decisões racionais na confusão.

Yuliia mostra o casaco do marido, que este comprou para o casamento da filha. Este casaco viajou com eles durante os 15 quilómetros de navegação.

Yuliia mostra o casaco do marido, que este comprou para o casamento da filha. Este casaco viajou com eles durante os 15 quilómetros de navegação.

O casaco de Yuliia, comprado para o casamento da sua filha.

O casaco de Yuliia, comprado para o casamento da sua filha.

Levaram duas lanternas potentes.

— Se formos arrastados para o mar, usamo-las para iluminação — continuou Andrii a brincar. Ou não estava a brincar.

A água potável não se encontrava em recipientes de plástico, mas sim em frascos de vidro, por isso Yuliia embrulhou-os em toalhas brancas e baixou-os para Andrii pela janela. As toalhas podiam ser usadas como uma bandeira branca. A única comida que levaram foi um saco de nozes. Levaram também três espingardas com munições como “prenda” para a patrulha russa. Yuliia entrou no barco com uma t-shirt cor de rosa e umas leggings enfeitadas com pérolas falsas. Em vez de uma boia salva-vidas, tinham um pneu de automóvel. Andrii vestia uma t-shirt, calções e botas de borracha. Ambos tinham chapéus de praia de abas largas na cabeça. Partiram de manhã, por volta das sete e meia.

O chapéu de praia que Yuliia usou na sua viagem de Oleshky para Kherson.

Yuliia e Andrii meteram nozes com casca num saco e levaram-nas para a viagem. “Duas nozes por dia e sobrevivemos”, disse Andrii, no caso de serem arrastados para o mar.

Yuliia e Andrii meteram nozes com casca num saco e levaram-nas para a viagem. “Duas nozes por dia e sobrevivemos”, disse Andrii, no caso de serem arrastados para o mar.

Leggings com pérolas, que Yuliia levou na viagem.

No telhado de uma das casas por onde passaram, uma mulher gritou:

— Não se esqueçam de nós!

Yuliia olhou para ela e, em silêncio, apontou o dedo para o Dnipró.

— Eu percebi, os olhos da mulher mostravam algo entre a compreensão e o desespero.

Durante a noite, a água tinha descido ainda mais, tornando o banco de areia ainda menos profundo, e o próprio canal tinha-se tornado 20 metros mais largo. Ainda assim, a corrente continuava forte e os barcos foram puxados para o remoinho. Andrii agarrou-se a um fio elétrico esticado entre dois postes e, segurando-se a ele, desceu lentamente rio abaixo, longe do remoinho, mas em direção a uma acácia, o que fez com que o barco insuflável batesse no seu topo espinhoso. As coisas que estavam no barco não eram pesadas, por isso este continuou a flutuar, mas ligeiramente torto. Andrii pensou que se tivessem levado mais duas pessoas com eles, o barco insuflável ter-se-ia afundado.

Depois de terem endireitado as duas embarcações, Andrii navegou até um bosque e avançou por entre as árvores, de modo a que as patrulhas russas ou os snipers não os pudessem ver. Atrás das ilhas inundadas, conseguiam ver Kherson, que ficava muito, muito longe, do outro lado do rio.

Foto de Oleshky depois da inundação

Nesse momento, Yuliia apercebeu-se de que não havia ninguém à espera deles no banco de areia, como Andrii tinha dito para a encorajar a entrar no barco. Teriam de navegar sozinhos até à outra margem. Mas Yuliia já não se importava com isso. E o seu medo da água havia desaparecido completamente.

Para dificultar os disparos dos militares russos, decidiram navegar obliquamente, contra a corrente.

De repente, o cabo partiu-se e o segundo barco começou a ser levado rio abaixo. Yuliia agarrou-se ao cabo de televisão para segurar o barco com os seus pertences. Manteve-o à tona durante o resto da viagem.

Nas ilhas entre as margens do Dnipró, havia quarteirões de casas de verão, incluindo casas de dois andares com vista para a água. O casal temia que os soldados russos pudessem estar ali à espreita, pelo que Andrii aproximou a sua espingarda. Perto da primeira ilha, os barcos começaram a ser levados para o lado. O homem tentou endireitar o barco, enquanto a mulher se agarrou ao seu braço.

— A terra flutuou! — os dois viram como a ilha inteira prosseguia rio abaixo. Os seus cabelos ficaram em pé. Andrii tentou afastar-se do turbilhão que tinha varrido toda a ilha. Entretanto, a terra continuava a flutuar em conjunto com as árvores e as pedras diretamente para o mar.

Mas, um minuto depois, verificou que não era a ilha que flutuava, mas sim os barcos que estavam a ser arrastados na direção oposta. Andrii tentou navegar contra a corrente, mas esta era tão forte que continuava a arrastá-los para baixo.

Um drone apareceu no céu do lado de Oleshky. Olharam para ver se estava carregado com uma granada, mas não a conseguiram ver. O “pássaro de ferro” pairava contra o sol. Andrii dirigiu os barcos para Kherson e, pouco antes da cidade, foram apanhados por uma corrente rápida que começou a arrastá-los para os bancos de areia. Tiveram de voltar para trás e ancorar junto a um pilar de betão com uma bandeira azul e amarela. Ancoraram e esperaram que uma das equipas de salvamento reparasse neles. Os drones continuavam a voar no céu. Um deles pairou sobre os dois barcos.

Andrii desamarrou o barco e começou a navegar lentamente entre as árvores, escondendo-se nos arbustos: se o drone tivesse uma granada, seria mais difícil largá-la. Uma cobra caiu de uma árvore diretamente para o barco. Yuliia começou a gritar até que o marido atirou o réptil pela borda fora com um leve aceno.

Por fim, avistaram um barco militar que se dirigia para o pilar de betão com a bandeira. Dois militares estavam a bordo. A sua insígnia não era visível à distância. Andrii e Yuliia esconderam-se atrás de um arbusto e o barco passou.

Outro “pássaro” veio da direção de Kherson e pairou sobre o mastro da bandeira. Yuliia começou a acenar-lhe. O barco militar regressou. Era um barco ucraniano. Os rapazes transferiram Yuliia para o deles, amarraram os dois outros barcos e puxaram-nos para a costa.

Andrii pegou no telemóvel para gravar um vídeo.

— É assim que é a liberdade — disse ele, olhando para a encosta verde da cidade portuária.

Testemunhas oculares de Oleshky

Material preparado por

Fundador do Ukraïner:

Bogdan Logvynenko

Autor,

Fotógrafo:

Vitalii Poberezhnyi

Editora Chefe:

Anna Yablutchna

Editor de foto:

Yurii Stefaniak

Gerente de conteúdo:

Leila Ahmedova

Tradutora:

Anna Bogodyst

Editor de tradução:

Guilherme Calado

Editora Chefe do Ukraïner Internacional:

Anasstacía Marushevska

Coordenadora de Ukraїner International:

Yulia Kozyryatska

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