
No dia 1 de março de 2014, às 17:43, o site “Ukrainska Pravda” publicou uma notícia: “A Rússia declarou guerra à Ucrânia”. Não houve hostilidades ativas na península, mas a anexação da Crimeia é o início da guerra russo-ucraniana do século XXI.
Mais de 200 entrevistas com cidadãos da Crimeia, que realizei nos últimos oito anos, respondem às principais questões sobre estes acontecimentos.
Como é que a anexação se tornou possível
Para compreender isto, precisamos de recuar muitas décadas. A Crimeia é um território onde se formou um “povo soviético” quase perfeito, naturalmente, com o povo russo a desempenhar o “papel principal”. Entre 1941 e 1944, foram deportados alemães, italianos, tártaros da Crimeia, gregos, arménios e búlgaros. Alguns destes povos só obtiveram o direito a regressar no final da década de 1980. No seu lugar, foram enviados para a Crimeia não só camponeses da Rússia e da Ucrânia, mas também oficiais do KGB e do exército soviético, leais ao governo.

Um chamamento para os russos para mudarem para Crimeia ocupada
Na década de 1950, quando a Crimeia foi transferida para a República Socialista Soviética da Ucrânia, foram abertos jardins de infância e escolas ucranianas. Porém, com o tempo, os outros povos passaram a ser tratados com desprezo, o que é comum na política russa. Por exemplo, em 1982, em Simferopol, o internato politécnico ucraniano foi transformado num internato para crianças com atraso mental. E em Bakhchisarai, após a deportação dos tártaros da Crimeia, uma antiga instituição de ensino muçulmana, a Madraça Zıncırlı, foi transformada num hospital psiquiátrico.
Na Crimeia, foi adotada uma política consistente de descrédito da Ucrânia. O semanário “Krýmskaia Pravda”, que tinha uma tiragem de 30.000 exemplares, difundia ativamente discursos de ódio. No virar do século, o seu chefe de redação, Mikhail Bakharev, escreveu que “a língua ucraniana é a dos plebeus” e que os ucranianos, enquanto povo, não existem. O jornal publicou artigos como “Nacionalistas e malorossos (em russo, ‘pequenos russos’)”, ou “A Ucrânia não é a Rússia, a Ucrânia é uma doença”.

Um livro de Mikhail Bukharev “Regressamos a ti, Terra Mãe”
Caracterizava-se também por ser sistematicamente turcofóbico, especialmente com artigos como “Trazidos pelo vento”, de Natália Astakhova, que causou impacto e levou a uma ação judicial contra o jornal. O artigo questionava: “Digam-me, ainda há alguma coisa nesta Crimeia miserável de que não tenham abusado? Terra, mar, vinho, montanhas, pomares, vinhas, cidades, aldeias – tudo está coberto com as teias de aranha das vossas pretensões, tudo está arruinado e saqueado, ou encharcado com as impurezas dos vossos pensamentos. Apenas o céu permanece. E o grito do muezim continua nele, bloqueando todos os outros sons da vida anteriormente pacífica”. O artigo foi publicado em 2008, no mesmo ano em que a sua autora recebeu o título de “Jornalista de Honra da República Autónoma da Crimeia”.

Ocupantes russos em Sevastopol
Desde a independência da Ucrânia, existiam organizações russas, financiadas pela Rússia e que divulgavam o “mundo russo”, a operar na Crimeia – “Comunidade Russa da Crimeia”, “Frente Popular Sevastopol-Crimeia-Rússia”, “Cossacos da Crimeia” e outras. Já em 2007, algumas destas organizações realizaram eventos sob os lemas “O futuro da Ucrânia está na união com a grande Rússia”, “Ucrânia sem Crimeia!”, “Não amamos a Ucrânia!”, etc..
Há razões para supor que, pelo menos durante o governo de Yanukovych, a maior parte do pessoal do SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) na Crimeia tenha colaborado com o FSB (Serviço Federal de Segurança da Federação Russa). “Não estamos à espera de qualquer ameaça daquele lado”, respondeu um oficial do SBU quando lhe perguntaram se os funcionários que viajavam em negócios para a Rússia eram interrogados da mesma forma que os que viajavam para a América. Como resultado, durante a ocupação russa, 86,4% do pessoal da SBU na Crimeia passou para o FSB.

Foto de fonte pública
Seria a Crimeia totalmente pró-russa?
Durante a Revolução da Dignidade, os cientistas políticos da península alimentaram intensamente o medo dos “fascistas” e dos “banderistas”. Em dezembro de 2013, o slogan “O fascismo não passará” surgiu em vídeos. Os outdoors de publicidade mostravam um futuro sombrio com a Ucrânia, alegadamente sob o domínio nazi, e um futuro brilhante com a Rússia. Nas caixas do correio apareceram folhetos com fotografias, nomes e apelidos dos participantes de Maidan com as palavras: “Esta pessoa contribuiu para a prosperidade do fascismo na Crimeia!”.
No entanto, o medo dos “fascistas” não fazia com que muitos habitantes da Crimeia quisessem separar-se da Ucrânia. De 4 a 18 de fevereiro de 2014, o Instituto Internacional de Sociologia de Kyiv e a Fundação “Iniciativas Democráticas” de Ilkó Kúcheriv realizaram um inquérito. Este revelou que apenas 41% dos cidadãos da Crimeia apoiavam a unificação da Crimeia com a Rússia.
A manifestação de 26 de fevereiro em Simferopol também demonstrou que os ativistas pró-ucranianos superavam em número os ativistas pró-russos, embora estes últimos tivessem sido complementados por pessoas da região de Cubã, na Rússia. De acordo com várias estimativas, o rácio entre os manifestantes pró-ucranianos e pró-russos variava entre 3:1 e 5:1.

Foto: Stas Yurchenko
Em 27 de fevereiro, militares sem identificação ocuparam o Conselho Supremo da Crimeia, o Conselho de Ministros, e encheram as ruas de Simferopol. Dias mais tarde, a propaganda russa explicou às pessoas que deviam sentir-se felizes. As crianças ofereceram flores aos ocupantes, raparigas sorridentes tiraram fotografias com eles.
Petro Koshukov, que na altura trabalhava como operador de câmara para a Al Jazeera, disse que, a 2 de março, entrevistou pessoas claramente locais numa manifestação pró-russa em Simferopol. “Porque é que vieram à manifestação?” – “Somos contra o fascismo, pelo direito de falar russo.” – “Então, querem mesmo que a Crimeia vá para a Rússia?” – “Não. Só queremos que não haja fascismo e que haja o direito de falar russo”. Depois de realizar uma dúzia de pequenas entrevistas, Petro Koshukov descobriu que nenhum dos inquiridos queria que a Crimeia se juntasse à Rússia.

Foto: Stas Yurchenko
Porém, sob a pressão da propaganda, houve pessoas que começaram a acreditar que queriam viver na Rússia. Um ano antes da anexação, falei com estudantes estagiários no Conselho Supremo da Crimeia. Todos disseram que a Crimeia era da Ucrânia. Um ano depois, alguns deles haviam deixado a península, enquanto outros sorriam e tiravam fotografias com bandeiras da “Unidade Russa”.
Durante a anexação, também se realizaram manifestações pró-ucranianas, mas a participação nelas era cada vez mais perigosa. Cerca de 200 pessoas que se reuniram em Sevastopol por ocasião do Dia de Shevchenko foram atacadas pelos “oficiais de segurança pública”, sendo pontapeadas e espancadas com chicotes. O jornalista da BBC Ben Brown tweetou sobre o assunto.

Um museu virtual de agressão russa
Porque é que os militares ucranianos entregaram a região sem disparar um tiro
Yurii Holovashenko, na altura comandante do batalhão de infantaria de montanha da 36.ª brigada separada da guarda costeira, estacionada na aldeia de Perevalne, afirma no documentário de Viktor Hrom, “Crimeia. Cercados de traição”, que os soldados ucranianos estavam a preparar as máquinas e os snipers tinham sido posicionados no parque. O seu adjunto, Yevhen Budnik, testemunhou que estavam prontos para ocupar passagens de montanha e cruzamentos de estradas para deter as colunas russas. Contudo, não receberam qualquer ordem do comandante da brigada, o Coronel Serhiy Storozhenko. Após uma conversa com os militares russos, este anunciou a sua decisão de depor as armas e render a brigada.

Foto: RFE/RL
Em 1 de março, Denys Berezovsky foi nomeado comandante da marinha ucraniana. No dia seguinte, aliou-se aos ocupantes e ordenou aos seus subordinados que entregassem as armas.
Nos primeiros dias da ocupação, o almirante Yurii Iliin tinha o posto de chefe do Estado-Maior da Marinha ucraniana, mas era impossível encontrá-lo. O vice-almirante Serhii Yeliseiev substituía-o nas funções de chefe do Estado-Maior. “Onde está Yeliseiev? – No hospital. – Estou a ver. Onde está o Chefe do Estado-Maior da Frota, o Contra-Almirante Shakura? – No hospital. – Então, quem é que está a comandar a frota? – Não se sabe”. Este diálogo surge no filme “Crimeia. Como Foi” pelo Capitão de 2.ª Classe Oleksandr Goncharov, vice-comandante de uma brigada de navios de superfície. Parece que o comando na Crimeia sabia o que estava a acontecer, mas não entrou em contacto, libertando-se de qualquer responsabilidade.

Denis Berezovskyi
O comportamento do então Ministro da Defesa da Ucrânia em exercício, Ihor Teniukh, permanece pouco claro. Em teleconferências, afirmou que os marinheiros tinham ordens claras do Estado-Maior. Mais tarde, eles testemunharam que a ordem era “não provocar” e “abster-se de ações ativas” e que a prontidão de combate foi reduzida a quotidiana. Aqueles que atuaram sem ordens ou mesmo contra elas conseguiram manter o seu equipamento e, consequentemente, as suas unidades. Por exemplo, a 10.ª Brigada de Aviação Naval, sob o comando de Ihor Bedzai, deslocou helicópteros e aviões do aeródromo de Novofedorivka, perto de Saki, para Mykolaiv. O coronel Ihor Bedzai foi morto durante uma missão de combate durante a guerra em grande escala, em 7 de maio de 2022.

Igor Bezdaj. Foto de fonte pública
Continua a discutir-se se o confronto era, em princípio, possível. Por um lado, em 2003, as ações decisivas das autoridades ucranianas travaram o agressor na ilha de Tuzla. Por outro lado, em 2014, depois de Yanukovych, a Ucrânia estava extremamente enfraquecida. Os serviços de informações, entre os quais se contavam muitos russos, trabalhavam a favor da Rússia, e o exército ucraniano estava debilitado com muitos soldados a nem sequer saber disparar.
Outro fator importante foi a falta de preparação moral do exército ucraniano para uma guerra contra os russos. A metáfora sobre os “irmãos” influenciou muitos. É significativo que, em Belbek, o coronel Yulii Mamchur tenha liderado os soldados ucranianos a cantar a canção soviética ” Levanta-te, grande país”, que foi partilhada pelos russos.

Foto: Kuba Kaminsky, Euromaidanpress
Os comandantes ucranianos foram maciçamente persuadidos pelos seus amigos militares russos: a Rússia tem melhores abastecimentos, novos equipamentos, dão apartamentos e carreira. Muitos compreenderam que, se não se entregassem à Rússia, teriam de abandonar a Crimeia.
Mas a traição não foi total. O operador Petro Koshukov falou-nos de um entrevistado de Sevastopol. Vamos chamar-lhe Vasyl. De etnia russa, entrou para a Marinha ucraniana no início da década de 1990 quase por acidente. Enquanto a Marinha ucraniana estava em dificuldades, os marinheiros da frota russa do Mar Negro recebiam salários elevados. Durante a ocupação, quando Vasyl viu a maldade e as incríveis mentiras da Rússia, apercebeu-se de que estava do lado da verdade, pelo que continuou a servir a Ucrânia em Ochakiv.
Pouco menos de um terço dos militares quebrou o seu juramento ao povo ucraniano. Um pouco mais de dois terços foram para o continente, muitos dos quais serviram mais tarde na área da Operação Antiterrorista (ATO), no leste da Ucrânia, e estão agora a defender a Ucrânia do agressor russo.

Kaliningrad. Ano 2020. Serhiy Elisseiev
Os tártaros da Crimeia deveriam ter defendido a Crimeia?
Os tártaros da Crimeia representam 12,6% da população da Crimeia. São menos de 240.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Em 14 de março, havia 22.000 soldados russos bem treinados na Crimeia.
É importante lembrar que, até 2014, os tártaros da Crimeia não eram aceites nas forças de segurança ucranianas. Entre os militares ucranianos, espalharam-se histórias de terror de que eram terroristas islâmicos que queriam entregar a Crimeia à Turquia. De um modo geral, as forças de segurança opuseram-se sistematicamente aos tártaros da Crimeia. Por exemplo, em 2008, a força especial de choque “Berkut” demoliu os seus edifícios em Ai-Petri. Em 2009, foi lançada uma granada de atordoamento para dentro de uma casa na aldeia de Myrne.

Foto: Crimean Solidarity
De qualquer modo, os tártaros da Crimeia estavam prontos para lutar contra os ocupantes. Chegaram mesmo a contactar as Forças Armadas ucranianas, mas rapidamente perceberam que a península já estava totalmente controlada pelos russos. Isto foi contado pelo comandante da unidade da Crimeia, Isa Akaiev, que tem lutado no Donbas desde 2014 e está a lutar agora, durante a invasão em grande escala.
Há outra resposta para a pergunta “Porque é que os tártaros da Crimeia não protestaram?”: protestaram e tiveram uma morte terrível. Exemplo disso é o caso de Reshat Ametov, que será abordado mais adiante.

Isa Akayev, Foto: Ukrinform
A falta de ações firmes refreou Putin ou libertou-lhe as mãos
Sim, o Conselho de Segurança da ONU organizou a sua primeira reunião de emergência em 28 de fevereiro. Sim, foi prometido que a Rússia seria expulsa do G8 e assim aconteceu. Sim, os presidentes e primeiros-ministros europeus condenaram veementemente as ações da Rússia. Sim, prometeram sanções económicas duras. Sim, nenhum dos países ocidentais reconheceu a legitimidade do “referendo”.
Ao mesmo tempo, apelaram ao apaziguamento do conflito e a uma solução diplomática. Isto influenciou os responsáveis ucranianos que temiam ser acusados de escalada se começassem a disparar. Em 7 de março, o Secretário da Defesa dos EUA, Chuck Hagel, agradeceu a Ihor Teniukh pela sua (sic!) “admirável contenção”.

Foto: Reuters
Só o lado ucraniano ouviu os apelos para evitar a escalada do conflito, Putin aproveitou-os. Nem as condenações verbais nem as sanções prometidas tiveram qualquer efeito sobre ele. O mundo ocidental continuava a acreditar que estava a lidar com um Estado com o qual se podia negociar.
Uma semana antes do “referendo”, os ativistas Anatolii Shchekun e Serhii Kovalskyi foram raptados. “Não é uma notícia interessante. Se tivesse havido um assassínio, teria havido algo para filmar”, ouviu Oleksandra Tselishcheva que colaborava como videógrafa com jornalistas londrinos.

Fonte rfi.fr
Um assassínio acabou por ser cometido, o de Reshat Ametov. Em 3 de março de 2014, o ativista tártaro da Crimeia deslocou-se ao Conselho de Ministros para um protesto silencioso e solitário. Há imagens que mostram como ele foi forçado a entrar num carro. 12 dias depois, o corpo de Reshat Ametov, horrivelmente mutilado e brutalmente torturado, foi encontrado a 60 quilómetros de Simferopol. Foi a primeira morte em consequência da ocupação. E o mundo engoliu-a também. No final, a própria Ucrânia manteve o silêncio sobre o assunto.
Tudo isto fez com que Putin se sentisse com as mãos livres. Ele tentou encontrar linhas vermelhas, mas não havia linhas vermelhas. Os russos seguiram em frente.

Despedida de Reshat Ametov
Porque é que agora somos tão ferozes
As autoridades fantoches marcaram o “referendo” sobre o estatuto da Crimeia logo no primeiro dia da ocupação: deveria ocorrer a 25 de maio. No entanto, foi reagendado duas vezes – para 30 de março e, finalmente, para 16 de março. Os convites para votar chegaram a ser enviados a pessoas já falecidas. De um modo geral, este evento foi realizado com todos os métodos utilizados na Rússia e nas eleições de 2004 na Ucrânia: “carrossel” (o transporte de eleitores para votarem várias vezes – ed.), utilização de recursos administrativos, russos trazidos de Cubã, autorização para votar com passaportes russos, etc.
Os residentes pró-ucranianos decidiram não participar no “referendo” para não o legalizar. Ainda assim, a Rússia anunciou que a taxa de participação foi de 83,1% e que 95,5% das pessoas votaram a favor da adesão da Crimeia à Rússia. Se calcularmos os números oficiais, verifica-se que 123% dos residentes de Sevastopol votaram. Os especialistas estimam que a verdadeira afluência às urnas foi de 40%, com cerca de 30% dos residentes a favor da adesão da Crimeia à Rússia.
Dois dias depois, em 18 de março, foi assinado o “Acordo entre a Federação da Rússia e a República da Crimeia sobre a adesão da República da Crimeia à Federação da Rússia e a formação de novos sujeitos na Federação da Rússia”. Simbolicamente, o assassinado Reshat Ametov foi enterrado neste dia. No mesmo dia, no território de uma das unidades militares em Simferopol, Serhii Kokurin, um oficial das Forças Armadas da Ucrânia, foi baleado pela “autodefesa” da Crimeia.

Um mês e meio depois, começaram as hostilidades no Donbas. Nos oito anos que se seguiram, os cidadãos da Crimeia, os ucranianos do continente e o mundo ficaram a saber como eram as autoridades russas ocupantes. Raptos, prisão de inocentes, tribunais odiosos, coação ao silêncio e impossibilidade de fazer negócios honestos. Inclui também a perseguição de certos segmentos da população: não só ativistas e jornalistas, mas também membros da organização muçulmana “Hizb ut-Tahrir” e crentes ortodoxos do Patriarcado de Kyiv ou protestantes.

Homens armados de AK-74 t RPG
Os especialistas concordam que a ideia e o plano para a tomada da Crimeia pela Rússia já existiam há muito tempo. Tal como a ideia de tomar a Ucrânia. A questão era quando. Inicialmente, Putin atuou de forma constitucional com a intenção de domar a Ucrânia através de Yanukovych. Quando Maidan ganhou em Kyiv e Yanukovych fugiu, criando um vazio de poder, a chefia russa decidiu que era uma boa altura para implementar a primeira parte do plano. Quanto à segunda parte, houve indícios na altura: quer o presidente do parlamento da Crimeia, Vladimir Konstantinov, quer o “primeiro-ministro”, Sergei Aksionov, disseram que toda a Ucrânia deveria juntar-se à Rússia depois da Crimeia.

Foto Unian
“Porque não se opuseram em 2014 e agora, oito anos depois, se batem com tanta ferocidade?”, perguntou-me um jornalista italiano nos primeiros dias da guerra. “Em primeiro lugar, foi um choque para a Ucrânia na altura, poucas pessoas acreditavam que a Rússia iria atacar. Em segundo lugar, o nosso exército não estava preparado para a guerra. Agora compreendemos a possibilidade de uma guerra e o nosso exército está muito mais forte. Em terceiro lugar, ao longo dos anos, tornou-se mais claro, para o mundo e para nós, quem é a Rússia. E quem é a Ucrânia.”

Foto: Depositfotos